Estou num gigantesco galpão. O teto é
muito alto. Nem vejo as vigas que o sustentam. Também olho ao redor
e não consigo ver o final desse galpão. Está claro. Eu visto uma
camiseta branca e uma calça branca. Estou em pé, descalço. Ao meu
lado direto há mais uma pessoa. Nunca a vi na vida. Do lado
dela, espio e tem outra. Espio mais para frente e vejo uma fila
interminável de pessoas, tando do meu lado direito quanto do lado
esquerdo. Me dou conta de que há uma fila idêntica à minha frente,
há um metro e meio de distância. Homens, mulheres, de várias
idades, mas nem muito jovens, nem muito velhos, aleatoriamente posicionados, mas todos em fila, todos de branco, também. Nós
estamos todos uns de frente para os outros da fila à frente.
Não sei que horas são, mas parece que
isso não importa. Estamos calados. Parece que temos medo não de
contestar o que fazemos aqui, mas de interagir com os outros ao
redor.
O silêncio deixa de existir aos
poucos, e, vagarosamente, estamos todos conversando. Descubro que a garota da direita gosta das mesmas coisas que eu, e o garoto da
frente, curte as mesmas músicas. Outros próximos de nós se
integram à conversa, sem sairmos do lugar -como se não
conseguíssemos, ou não precisássemos- e começamos a contar as
coisas que aprontávamos na escola. Relembramos, cada um um pouco,
nossas festinhas de aniversário, e as gafes que cometemos. Rimos
muito uns dos outros e todos juntos. Até os feitos nos jogos nos
aproxima mais e mais. Discutimos o futuro. Opinamos sobre política. Contamos piadas. Adorei essas pessoas. Elas são interessantes. Quero
estar sempre com elas. Continuo sem noção de tempo, mas lembra
que disse que isso não importava? Não faz diferença alguma! Para
mim estou há horas na melhor conversa da minha vida, com pessoas
incríveis. Somos diferentes, mas somos tão próximos. Agora,
quando olho para a face de cada um enquanto rio junto com eles, sinto
uma coisa por dentro. Uma felicidade que parece que vai explodir.
Estou feliz por estar aqui.
Agora, ouço o silêncio atravessando
as filas desde lá longe, vindo como uma onda. Uma sirene toca bem
aguda. Ouço engrenagens. Pareço me movimentar. Mas não estou
andando. Olho para meus pés e percebo que minha fila e eu estamos em
cima de uma esteira. Os da frente também estão em outra esteira. Não podemos sair dos nossos lugares. Minha fila começa a ser
carregada para a esquerda e a fila da frente para a direita. Vejo
aquelas pessoas tão familiares se esvaíndo, e meus olhos, na mesma
hora se enxem de lágrimas que faço um esforço para que não
escorram pelo meu rosto de expressão terrivelmente triste. Tiraram
uma parte de mim. Vejo pessoas e mais pessoas da fila da frente
cruzando os olhares aos meus. As que estavam do meu lado agora são
outras que não conheço. Tão esquisitas. Têm expressões feias. Não quero mais estar aqui! Quero aquelas pessoas! Uma
dor profunda me envolve. As esteiras param. Não tenho coragem de
olhar para quem está na minha frente. Permaneço cabisbaixo, com as
lágrimas caindo sobre meus pés. Agora, parece uma eternidade cada
segundo.
Demorou muito mais tempo para que o
silêncio fosse deixado de lado. Ouviu-se muitos murmúrios e choros
calados por todo o ambiente.
Ergui a cabeça. Olhei para o homem à
minha frente.
- Assim é a sua vida.
1 comentários:
Perfeito Rafa! :O
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