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Como é sentir-se verdadeiramente ansioso

Sabe, quando eu era pequeno, eu sempre fui ansioso. As pessoas sempre me falavam isso, e hoje identifico que, naquela época, não era nada preocupante, era normal.

No entanto, desde sempre fiquei ansioso por uma questão muito simples: sempre sofri por antecedência e, ao longo da vida, conforme os anos passam e as responsabilidades da vida adulta aumentam, você percebe que quanto mais antecipa o sofrimento pensando nas várias hipóteses de que o que vai acontecer pode dar errado, ou que pode ser difícil, mais ansioso e mais retraído você fica por ter que viver o que virá a seguir. Terá que viver o desconhecido.

O que um grande amigo sempre me diz, não posso deixar de concordar, é que não dá pra saber o que vai acontecer.

Aquela entrevista de emprego: pode sim dar certo, mas também pode não dar em nada. Assim como aquele encontro que você marcou pode ser desastroso, mas também pode ser muito legal. E tantas outras variáveis que posso ficar substituindo sempre vão levar a uma conclusão: não dá pra saber.

Ao mesmo tempo que isso me acalma em alguns contextos, em outros só aumenta meu desespero exatamente por não saber o que há por vir. E às vezes eu sinto que não consigo lidar com isso.

Então o quadro de ansiedade começa.


Como é?

Terrível.

Qualquer pessoa sente ansiedade ao longo da vida por diversas razões. É normal, porque seu corpo está emitindo sinais de que você está prestes a passar por alguma situação de ameaça. É um sistema bioquímico agindo em você.

Até que em determinado momento da minha vida, aliado a baixas emocionais, a ansiedade passou a se dar de forma disfuncional, sendo mais acentuada e durando mais tempo. Quando situações comuns passaram a ter mais peso, meu corpo começou a sentir os efeitos da verdadeira ansiedade.


Não vou me esquecer do primeiro dia em que passei por uma crise. A falta de ar, o desespero, a garganta se fechando, a força para respirar, os pulmões não dando conta, o corpo gelado, o suor frio, as mãos formigando, o coração acelerado, o medo de que não vai passar, o choro descontrolado, a sensação de que tudo só piora, de que não vai aguentar, o medo de desmaiar, medo de morrer. Tudo de uma vez.

Em outro dia próximo, por volta das 18 horas, eu precisava dirigir para buscar minha mãe no trabalho. Assim que entrei no carro, tudo voltou de uma vez. A única coisa que consegui fazer foi atravessar um quarteirão, ligar para ela, avisar que não conseguiria buscá-la, e voltar para casa, chorando desesperadamente e morrendo de medo.

A partir desse dia, minha vida ganhou esse add-on: "eventuais crises de ansiedade".

Cada momento de ansiedade durante o dia ainda causa preocupações em relação a como está a respiração no momento, e, por consequência, a breves momentos de falta de ar diários.

Sempre, só de perceber como está a respiração no momento, a ansiedade vem, e todo o sistema respiratório parece se contrair para dificultar a passagem de ar. E quanto mais isso fica na minha cabeça, mais nervoso e ansioso fico, podendo até iniciar uma crise, como já aconteceu.



O tratamento

O médico passou a me acompanhar, já há quase um ano, e mantém um tratamento por meio de ansiolítico. Ao mesmo tempo, o auxílio profissional de uma psicóloga tem me ajudado em muitos pontos da minha vida.

Durante todos esses meses, aprendi a identificar, a cada vez que ocorre, qual foi o antecedente, ou seja, lembrar o que estava acontecendo, como eu me sentia; como eu fiquei durante o momento da crise, e no que eu pensava; e qual foi o pós, quando as coisas se acalmaram.

Daqui pra frente...

Bem, possivelmente vou conviver com isso para sempre. Ou não. O que eu mais quero na vida é apenas voltar a ser uma pessoa normal, e atualmente a medicação tem ajudado bem no controle dos sintomas, mas ainda assim, raramente ainda tenho crises fortes como antes. Graças a Deus elas não acontecem com a mesma frequência de antes!, senão não aguentaria, mas ainda estão me rondando...

O uso do remédio é contínuo, e sei que estou dependente cem porcento. Diria que é o preço a se pagar em troca de conseguir passar bem o dia seguinte.

Em paralelo ao medicamento e à psicóloga, tenho familiares e amigos próximos que me dão suporte e me ajudam nos dias difíceis. É a isso que sou mais grato.



Passar por uma crise de ansiedade, ou mesmo por outros problemas psicológicos como depressão, síndrome do pânico e tudo mais não é motivo de orgulho. Não é pra ser romantizado como posts bem humorados fazem no Facebook, por exemplo.

Não é porque você decide uma coisa e segundos depois mudou de opinião que você é bipolar, entende? Assim como não é porque você está alguns dias tristes pelo término do seu relacionamento que você tem depressão. E as pessoas costumam se identificar muito com esse tipo de pensamento e acabam até gostando de tomar para si termos de problemas reais, como se fossem banais.

Não são, ok? Apenas parem de ser idiotas. E se você realmente tem um problema, procure ajuda, não há nada demais nisso. Apenas você pode cuidar da sua vida, dos seus pensamentos, e eles precisam ser de qualidade, e para isso existem psicólogos dispostos a nos ajudar a lidar com problemas que nós mesmos não conseguimos lidar.

Pensei em escrever esse meu relato sobre ansiedade por ler tantos comentários de pessoas que também passam por situações parecidas. Talvez os sintomas não sejam os mesmos, gostaria de saber nos comentários, ou sejam mais brandos ou mais fortes, mas, no fundo, estamos todos tentando apenas seguir uma vida boa apesar das dificuldades.